Por Pedro Vecchia
Nos últimos anos, a Turquia construiu uma imagem de potência regional ambiciosa, sendo capaz de influenciar diretamente as Guerras Civis na Síria e Líbia. Além de ampliar sua presença diplomática e econômica em regiões tão diversas quanto os Bálcãs, a África Subsaariana e o Mar Negro. Atualmente, a Turquia enfrenta uma grande instabilidade interna devido às prisões recentes de prefeitos das maiores cidades do país.
Diante de um cenário de multilateralismo global e elevação de desafios internos, uma pergunta se faz necessária: a Turquia ainda consegue manter sua estratégia de equilibrar o jogo entre Ocidente e a Rússia sem comprometer sua segurança e influência regional?
No campo diplomático, Ancara tem buscado ampliar seu leque de aliados, evitando amarras exclusivas ao bloco europeu. Essa tentativa de diversificação aparece na solicitação de adesão ao BRICS em setembro de 2024, na reabertura do diálogo com o Egito em 2023 e na atual postura ativa do país em negociações multilaterais. No entanto, ao assumir posições firmes, como o apoio ao Hamas e as crítica a Israel, a Turquia criou uma série de tensões com os parceiros ocidentais, reduzindo sua capacidade de atuar como mediadora confiável. Além disso, o conflito na Ucrânia expôs o limite desse equilíbrio: as tentativas turcas de costurar um acordo de cessar-fogo falhou no último mês. Assim, sua diplomacia não conseguiu se impor na resolução do conflito, deixando o país ainda mais isolado.

Na área de defesa, a crescente dependência de Moscou tem se revelado um obstáculo para o recente acordo que Ancara buscou estabelecer com a Ucrânia. A compra dos sistemas russos “S-400” afastou a Turquia do programa americano “F-35”, no qual possuía direito de compra garantido pela OTAN. Além disso, a expansão de investimento em infraestrutura de energia nuclear sob gestão russa mostram que, embora a Turquia tenha feito avanços significativos em sua indústria de defesa, está cada vez mais atada a um parceiro que pode impor restrições e até pressões políticas. Esse arranjo enfraquece a posição turca dentro da OTAN, especialmente num momento em que seu entorno estratégico mostra-se como ponto de tensão constante.
A Turquia vive um dilema entre a ambição legítima de ser protagonista regional, ao mesmo tempo em que afasta aliados tradicionais. O futuro da política externa dependerá de sua capacidade de equilibrar autonomia e dependência. Isso exigirá flexibilidade e prudência para não comprometer o papel que ainda pode desempenhar no tabuleiro global.